Conheça Mariangela Hungria: A Cientista Brasileira que Conquistou o Nobel da Alimentação

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Em maio de 2025, a microbiologista brasileira Mariangela Hungria foi laureada com o Prêmio Mundial da Alimentação (World Food Prize), considerado o “Nobel da Agricultura”, por suas contribuições inovadoras que transformaram a agricultura brasileira e mundial. Seu trabalho pioneiro no desenvolvimento de tratamentos biológicos para sementes e solos não apenas aumentou a produtividade agrícola, mas também promoveu práticas sustentáveis que reduzem a dependência de fertilizantes químicos.

Início de uma Jornada Científica

Nascida em 6 de fevereiro de 1958, em Itapetininga, São Paulo, Mariangela Hungria demonstrou desde cedo interesse pela ciência. Inspirada por sua avó, que lhe presenteou com o livro “Caçadores de Micróbios” de Paul de Kruif, decidiu aos oito anos que seguiria carreira na microbiologia. Formou-se em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) em 1979, e posteriormente concluiu mestrado em Solos e Nutrição de Plantas na mesma instituição. Seu doutorado em Ciência do Solo foi realizado na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), defendido em 1985.


Carreira na Embrapa e Avanços na Agricultura Biológica

Em 1982, Mariangela ingressou na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sendo transferida em 1991 para a Embrapa Soja, em Londrina, Paraná. Lá, dedicou-se ao estudo da fixação biológica de nitrogênio, um processo em que bactérias do solo convertem o nitrogênio atmosférico em formas assimiláveis pelas plantas. Essa alternativa sustentável aos fertilizantes químicos mostrou-se eficaz especialmente na cultura da soja, permitindo que o Brasil se tornasse o maior produtor e exportador mundial do grão.

Além da soja, Hungria aplicou técnicas semelhantes em outras culturas, como milho e trigo, utilizando bactérias como Azospirillum brasilense para fortalecer raízes e melhorar a absorção de nutrientes e água. Essas inovações contribuíram para a expansão da agricultura brasileira, aumentando a produtividade e reduzindo os impactos ambientais.


Reconhecimento Internacional e Impacto Global

O Prêmio Mundial da Alimentação de 2025 reconheceu o impacto das pesquisas de Mariangela Hungria na promoção de uma agricultura mais sustentável e eficiente. Seus métodos de inoculação biológica são utilizados em mais de 40 milhões de hectares de plantações de soja no Brasil, resultando em uma economia anual estimada de até US$ 25 bilhões para os agricultores e evitando a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO₂ equivalente.

Hungria é a terceira brasileira a receber esse prestigioso prêmio, juntando-se a Edson Lobato e Alysson Paulinelli (2006) e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2011).


Legado e Compromisso com a Sustentabilidade

Ao longo de sua carreira, Mariangela Hungria enfrentou ceticismo e desafios, mas manteve-se firme em sua convicção de que soluções biológicas poderiam transformar a agricultura. Sua perseverança e dedicação não apenas revolucionaram as práticas agrícolas no Brasil, mas também servem de modelo para o mundo, demonstrando que é possível aliar produtividade e sustentabilidade.

Além de sua atuação na Embrapa, Hungria é professora na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), contribuindo para a formação de novas gerações de cientistas comprometidos com a inovação e a preservação ambiental.

Ciência a Serviço da Agricultura Regenerativa

O trabalho de Mariangela Hungria vai além de aprimorar técnicas existentes — ela ajudou a consolidar um novo paradigma na produção agrícola: a agricultura regenerativa. Essa abordagem, que propõe o uso de microrganismos benéficos ao solo para promover o equilíbrio ecológico, tem ganhado destaque em um mundo cada vez mais preocupado com as mudanças climáticas e a degradação ambiental.

Em vez de depender de grandes quantidades de fertilizantes sintéticos, Hungria mostrou que é possível recuperar a vitalidade do solo por meio da biotecnologia natural. Ela foi responsável por aprimorar o uso de inoculantes — produtos à base de bactérias fixadoras de nitrogênio — que, aplicados às sementes, aumentam a produtividade sem causar danos ao meio ambiente.

Esse conhecimento, antes restrito a laboratórios e centros de pesquisa, passou a ser utilizado por agricultores de diversos portes. Desde grandes produtores de soja até agricultores familiares começaram a adotar as soluções desenvolvidas por Hungria e sua equipe na Embrapa Soja. Com isso, milhares de hectares que estavam empobrecidos foram regenerados e se tornaram mais férteis, abrindo espaço para produções sustentáveis e rentáveis.


Protagonismo Feminino na Ciência Brasileira

A conquista de Mariangela Hungria também representa um marco simbólico: o reconhecimento de uma mulher cientista em um campo majoritariamente masculino. Durante décadas, ela enfrentou barreiras de gênero para consolidar seu espaço na microbiologia agrícola, desafiando estereótipos e preconceitos.

Hungria não apenas quebrou paradigmas, como também se tornou uma mentora de outras mulheres na ciência. Em suas aulas e orientações acadêmicas, sempre incentivou jovens pesquisadoras a ousarem, a liderarem projetos e a participarem de forma ativa das decisões científicas. Como professora universitária e palestrante internacional, ela levou sua voz a conferências e fóruns ao redor do mundo, defendendo uma ciência plural, diversa e engajada.

Esse papel de liderança inspira gerações e reforça que o futuro da agricultura e da pesquisa depende da inclusão de múltiplas perspectivas, especialmente de grupos historicamente sub-representados.


Impacto Econômico Direto e Duradouro

A dimensão econômica das descobertas de Mariangela também chama a atenção. Estima-se que o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio e outros inoculantes já tenha poupado bilhões de dólares aos produtores agrícolas brasileiros. O cálculo é simples: fertilizantes químicos custam caro, precisam ser importados em sua maioria e ainda causam impacto ambiental severo. Já as soluções biológicas são acessíveis, seguras e com resultados superiores a médio e longo prazo.

No caso da soja, por exemplo, a substituição de fertilizantes por bactérias do gênero Bradyrhizobium permite não apenas cortar custos, mas também melhorar a estrutura do solo, tornando-o mais resistente a períodos de seca e alagamento. Isso confere maior resiliência às plantações em tempos de eventos climáticos extremos, que têm se tornado mais frequentes.

Hungria demonstrou que inovação e lucratividade podem caminhar juntas quando a ciência está baseada no conhecimento do ecossistema. Ela ajudou a transformar o Brasil em referência internacional em inoculação biológica — um diferencial competitivo que muitos países buscam replicar.


Exportação de Conhecimento e Diplomacia Científica

Graças ao reconhecimento internacional que alcançou, Mariangela Hungria passou a atuar como embaixadora da ciência brasileira. Ela já cooperou com mais de 30 países, oferecendo consultorias, ministrando workshops e desenvolvendo projetos em regiões com clima tropical, semelhante ao do Brasil, como países africanos e latino-americanos.

Esse intercâmbio de conhecimento reforça o papel da ciência como ponte entre nações. Em tempos de tensões geopolíticas, crises alimentares e insegurança climática, a cooperação científica ganha status de ferramenta diplomática. E Mariangela, com sua humildade e didática, soube ocupar esse espaço com maestria.

Suas pesquisas foram adaptadas a diversas realidades, desde plantações de arroz na África até lavouras de feijão na América Central, sempre respeitando a cultura local e oferecendo alternativas sustentáveis que se integram aos modos de vida dos agricultores.


Honrarias e Reconhecimento Público

O prêmio mundial recebido em 2025 apenas coroou uma trajetória que já vinha sendo admirada no meio científico. Mariangela Hungria foi eleita para a Academia Brasileira de Ciências, recebeu condecorações do Ministério da Ciência e Tecnologia, e também foi homenageada por entidades agrícolas e ambientais do Brasil e do exterior.

Com mais de 400 artigos científicos publicados e dezenas de patentes registradas, ela figura entre os principais nomes da microbiologia aplicada à agricultura no século XXI. Mas apesar do currículo extenso, é conhecida por sua simplicidade, proximidade com estudantes e compromisso com a popularização da ciência.

Mesmo após a consagração internacional, Hungria segue atuando no campo, conversando com produtores, acompanhando os testes em lavouras e adaptando as tecnologias conforme o feedback dos usuários.


Futuro Sustentável: Ciência, Clima e Alimentos

O legado de Mariangela Hungria ganha ainda mais relevância diante dos desafios alimentares globais. Com a previsão de que a população mundial ultrapasse os 9 bilhões até 2050, produzir mais alimentos com menos impacto ambiental é uma necessidade urgente.

A abordagem de Hungria mostra que a resposta pode estar debaixo dos nossos pés: no solo, nas raízes, nas bactérias invisíveis que trabalham silenciosamente para manter os ecossistemas produtivos. Seu trabalho reforça a importância de olhar para a natureza não como inimiga, mas como aliada no enfrentamento dos problemas modernos.

Ao valorizar os microrganismos do solo, Hungria devolveu prestígio à biodiversidade subterrânea e ensinou ao mundo que o invisível também sustenta a vida. Sua história é um convite à esperança e à ação — de que com conhecimento, ética e compromisso, é possível alimentar o mundo sem destruir o planeta.

Uma História que Inspira Gerações

A trajetória de Mariangela Hungria é mais do que uma sequência de títulos e premiações — é uma história de dedicação, persistência e amor pela ciência. Em um país onde muitas vezes a pesquisa científica enfrenta cortes de verbas, falta de reconhecimento e escassez de incentivos, sua conquista mundial serve como farol para milhares de jovens que sonham em mudar o mundo com o poder do conhecimento.

Hungria provou que é possível construir soluções inovadoras com impacto direto na vida das pessoas, especialmente nas áreas rurais. Seu trabalho melhora a produção de alimentos, preserva o meio ambiente, impulsiona a economia nacional e ainda fortalece a imagem do Brasil como líder em tecnologias sustentáveis.

Além disso, ela representa uma figura fundamental na luta por maior valorização da pesquisa científica nacional. Ao ganhar um prêmio internacional de alimentação, Mariangela coloca luz sobre a importância dos investimentos em ciência e tecnologia como estratégia para um futuro mais justo, verde e equilibrado.

Seu nome já está registrado entre os grandes pensadores e inovadores da história brasileira. Mas, mais do que isso, ela continuará sendo lembrada por sua generosidade, sua forma acessível de ensinar e sua incansável vontade de melhorar a vida no campo e nas cidades, sem perder o foco na preservação dos recursos naturais.

Num tempo em que tantas notícias são marcadas por crises e incertezas, histórias como a de Mariangela Hungria mostram que ainda há espaço para conquistas grandiosas feitas com humildade e verdade. O mundo precisa de mais cientistas como ela — e o Brasil deve se orgulhar de ser o solo fértil onde essa mente brilhante.


Conclusão

A trajetória de Mariangela Hungria é um exemplo inspirador de como a ciência e a determinação podem promover mudanças significativas na sociedade. Seu trabalho não apenas elevou o Brasil ao status de potência agrícola, mas também reforçou a importância de práticas sustentáveis na produção de alimentos. Ao receber o Prêmio Mundial da Alimentação, Hungria não apenas celebra uma carreira de conquistas, mas também reforça o papel crucial da ciência na construção de um futuro mais equilibrado e sustentável para todos.

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