O dia 25 de maio marca uma das datas mais sensíveis e necessárias do calendário brasileiro: o Dia Nacional da Adoção. Muito além de um marco simbólico, esse dia propõe um convite à reflexão: quantas crianças e adolescentes ainda esperam por um lar? Quantas histórias de amor podem surgir quando se decide adotar? E o mais importante — por que a adoção ainda é cercada por mitos, preconceitos e burocracias?

O Dia Nacional da Adoção surgiu com a missão de sensibilizar a sociedade brasileira sobre a importância do acolhimento familiar. É uma data que pede empatia, atenção e, sobretudo, ação. Neste artigo, vamos explorar o cenário atual da adoção no Brasil, os desafios enfrentados, as histórias que inspiram e o que ainda precisa mudar para que mais crianças encontrem um lar onde possam crescer com dignidade, afeto e segurança.
O que é o Dia Nacional da Adoção?
Criado oficialmente em 2002, o Dia Nacional da Adoção foi instituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) com o intuito de dar visibilidade à situação de milhares de jovens que vivem em abrigos à espera de um novo começo. A data se propõe a desconstruir tabus, difundir informações corretas sobre o processo de adoção e incentivar famílias a abrirem seus corações para essa possibilidade.
O Brasil tem mais de 4 mil crianças e adolescentes aptos para adoção, segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Em contrapartida, existem mais de 30 mil pretendentes cadastrados no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA). A pergunta que não quer calar é: por que tantos ainda não foram adotados?
A realidade dos abrigos
A experiência de viver em um abrigo é marcada por desafios emocionais e estruturais. Embora muitos desses locais ofereçam segurança, alimentação e acesso à educação, eles não conseguem substituir o que uma família proporciona: o vínculo afetivo permanente, o senso de pertencimento e a estabilidade emocional.
As crianças em acolhimento institucional vivem com a constante incerteza sobre o futuro. Muitas foram vítimas de negligência, violência ou abandono. Outras foram afastadas judicialmente por conta de riscos à sua integridade física ou psicológica. Cada uma delas carrega uma história de ruptura que precisa ser ressignificada com amor e acolhimento.
O perfil mais buscado x a realidade da fila
Um dos maiores obstáculos na adoção no Brasil é a discrepância entre o perfil das crianças desejadas pelos adotantes e o perfil daquelas disponíveis para adoção. A maioria dos pretendentes prefere bebês, de até dois anos, brancos e sem irmãos. No entanto, grande parte das crianças aptas à adoção têm mais de sete anos, são negras ou pardas e fazem parte de grupos de irmãos.
Essa disparidade revela o quanto a sociedade ainda precisa evoluir em termos de preconceito racial, etarismo e compreensão do que é, de fato, o amor parental. Uma criança de 9, 12 ou até 17 anos também precisa de colo, também merece carinho, também sonha com uma família.
O processo de adoção: um caminho possível
Ao contrário do que muitos pensam, adotar não é um processo impossível ou inacessível. Embora envolva etapas importantes, como cursos de preparação, entrevistas, avaliação psicossocial e jurídica, o procedimento é transparente e visa assegurar que o adotante tenha condições reais de oferecer um ambiente saudável e amoroso.
Após o cadastro no SNA e a habilitação como pretendente, inicia-se o processo de aproximação com crianças compatíveis com o perfil aceito. O tempo de espera varia de acordo com a abertura dos adotantes. Famílias que aceitam crianças mais velhas, grupos de irmãos ou com necessidades especiais costumam ter a adoção concretizada em menos tempo.
Adoção tardia: desafios e recompensas
A chamada adoção tardia — de crianças mais velhas ou adolescentes — ainda encontra resistência. Isso ocorre por medo do vínculo ser mais difícil ou de traumas anteriores. Mas a experiência mostra que o amor não tem idade. Com paciência, acompanhamento psicológico e afeto contínuo, muitos vínculos se formam e histórias incríveis florescem.
É nesse campo que surgem histórias de superação emocionantes. Casais que adotaram irmãos de 8 e 11 anos. Mães solos que acolheram adolescentes em situação de rua. Famílias que deram uma nova chance a jovens considerados “difíceis” e que hoje são formados, realizados e profundamente gratos.
Adoção por casais homoafetivos: um avanço necessário
Nos últimos anos, o Brasil avançou no reconhecimento do direito de casais homoafetivos adotarem. A Justiça brasileira já consolidou o entendimento de que o que importa é o afeto, a estabilidade emocional e a capacidade de cuidar. Casais do mesmo sexo vêm adotando crianças e oferecendo um lar repleto de amor, segurança e educação.
É fundamental combater o preconceito que ainda existe em torno da parentalidade LGBTQIA+. O que uma criança precisa é de alguém que a ame, a escute, a respeite — e isso independe de gênero ou orientação sexual.
Adoção internacional: quando o Brasil não dá conta
Em alguns casos, quando não há pretendentes brasileiros dispostos a adotar determinados perfis, o país permite a adoção internacional, desde que respeite tratados e convenções internacionais. Crianças com deficiência severa, grupos grandes de irmãos ou adolescentes com histórico de rejeição acabam sendo acolhidos por famílias estrangeiras, que se mostram dispostas a enfrentarem os desafios da criação com amor e compromisso.
Essa realidade mostra que o amor não conhece fronteiras. Porém, também é um alerta: o Brasil precisa olhar com mais humanidade para seus próprios filhos.
Mitos que precisam ser quebrados
Há muitas ideias equivocadas que afastam pessoas da adoção. Algumas delas:
“É muito difícil adotar.” — O processo exige responsabilidade, mas é possível e acessível.
“Não vou amar uma criança que não é meu sangue.” — Amor se constrói no dia a dia, com convivência e cuidado.
“Criança adotada sempre tem problemas.” — Toda criança precisa de acolhimento, e não existe garantia de que um filho biológico não terá desafios.
“Adolescentes não querem ser adotados.” — Muitos querem, sim, e sonham com uma família até o último dia antes da maioridade.
Adoção legal x adoção à brasileira
Um dos maiores entraves éticos e jurídicos é a chamada adoção à brasileira, quando uma criança é registrada como filho sem seguir os trâmites legais. Isso é crime. Pode parecer um atalho, mas traz sérias consequências para todos os envolvidos — principalmente para a criança, que fica em situação de vulnerabilidade jurídica.
Adoção responsável é feita com transparência, dentro da lei, e com acompanhamento do Judiciário.
O papel da sociedade
A adoção não é responsabilidade apenas de quem decide adotar. Toda a sociedade tem um papel a cumprir. Seja disseminando informações corretas, combatendo preconceitos, apoiando famílias adotivas ou pressionando o poder público por políticas de acolhimento e assistência, todos podem contribuir.
Projetos sociais, ONGs, campanhas de conscientização e ações nas escolas são fundamentais para formar uma cultura de adoção mais inclusiva e empática.
A voz das crianças
Neste 25 de maio, é preciso ouvir quem mais importa nessa equação: as crianças e adolescentes. Eles não querem luxo, não pedem perfeição. Desejam o básico que todo ser humano merece: ser amados, respeitados e pertencentes a um lar.
Em cartas emocionadas, muitas crianças em abrigos escrevem sobre o desejo de ter com quem dividir um almoço de domingo, com quem brincar, com quem conversar ao fim do dia. Elas não querem um milagre — só uma chance.
Histórias que inspiram
Joana, 42 anos, solteira, adotou os irmãos Rafael e Lucas, de 9 e 12 anos, depois de participar de um grupo de apoio à adoção tardia. Hoje, os meninos chamam-na de mãe com orgulho, e ela diz que “nasceu para ser mãe deles”.
Já o casal André e Marcelo, juntos há 15 anos, adotaram a pequena Luna, com paralisia cerebral, e transformaram a vida dela com estímulos, afeto e inclusão. “Adotar foi a melhor escolha das nossas vidas”, afirmam.
O que pode mudar com mais informação?
Informação salva vidas. Quanto mais a sociedade entender o que é adoção, como funciona e por que é tão importante, mais famílias estarão dispostas a assumir esse compromisso. Mais crianças sairão dos abrigos. Mais histórias terão final feliz.
O Dia Nacional da Adoção é uma oportunidade de ouro para educar, comover e motivar. Cada conteúdo compartilhado, cada roda de conversa, cada iniciativa importa.
O papel das campanhas de conscientização
As campanhas de conscientização sobre a adoção são fundamentais para transformar percepções equivocadas e aproximar a sociedade da realidade enfrentada por crianças e adolescentes em situação de acolhimento. Muitas vezes, é o desconhecimento que afasta potenciais adotantes. Quando as pessoas entendem o verdadeiro significado da adoção e desconstroem mitos, torna-se mais fácil abrir o coração para essa possibilidade.
Iniciativas como rodas de conversa, documentários, reportagens e ações nas redes sociais ajudam a dar visibilidade a histórias reais de sucesso e inspiram outras pessoas a seguir o mesmo caminho. Quando alguém vê uma família adotiva falando com sinceridade sobre seus desafios e alegrias, o processo deixa de parecer inatingível.

Além disso, projetos como “Adote um Boa Noite” e “Adoção Tardia Brasil” têm cumprido um papel essencial ao mostrar rostos, nomes e sonhos de crianças reais que esperam por uma família. Esses projetos contribuem para humanizar o processo e criar conexões emocionais poderosas.
O que cada um pode fazer?
Mesmo quem não tem planos de adotar pode contribuir para a causa. É possível:
Divulgar informações corretas sobre o processo de adoção;
Apoiar famílias adotivas emocionalmente;
Participar de eventos sobre o tema;
Voluntariar-se em abrigos ou instituições de acolhimento;
Combater estigmas com conversas empáticas e responsáveis.
A transformação começa com pequenas atitudes. Pode começar em uma conversa, em um clique, em uma escolha.
Conclusão: adotar é um ato de amor, coragem e esperança
Neste 25 de maio, mais do que lembrar a data, é hora de refletir: o que você pode fazer por uma criança que espera? Talvez você não possa adotar, mas pode compartilhar informações, apoiar famílias adotivas ou participar de projetos sociais.
Adotar não é caridade. É responsabilidade, compromisso e, acima de tudo, amor. Um amor que se constrói com respeito, empatia e dedicação.
Se o mundo fosse mais justo, nenhuma criança estaria em um abrigo. Mas enquanto isso não é realidade, que sejamos aqueles que fazem a diferença. Porque toda criança merece crescer onde o amor mora — e o amor, com certeza, cabe em qualquer coração disposto a acolher.